ARTIGO DE OPINIÃO
Em busca da verdade
Há um vírus que vem atormentando as
sociedades, provocando histerias, propagando o ódio, causando inimizades e até
desavenças familiares. A disseminação desse intruso patógeno vem se alastrando
e se tornando uma arma de alienação em massa que provoca reações destemperadas
e deixa as emoções inflamadas, impedindo que a razão - a nossa capacidade de
analisar e interpretar os fatos de forma de forma prudente, responsável e não
leviana – seja a força motriz de nossas ações. Apesar de não ser algo novo, as
famigeradas Fake News chegaram de mansinho, na surdina, e adentraram de forma avassaladora na comunicação
interpessoal, impulsionadas pela rápida conexão da
internet, pelo despreparo dos usuários e pelas más intenções de quem as produz.
No livro “Ensaio sobre a lucidez”, do escritor português José Saramago,
depois da expressiva manifestação do voto em branco, os políticos renegados
adotaram várias estratégias para retomar o controle da cidade e, dentre elas, a
divulgação de mentiras para manipular a população e culpar falsamente pessoas
que não tinham relação nenhuma com a situação. A obra retrata, mesmo sendo uma
ficção, uma prática bastante comum no meio político e que agora encontrou força
de propagação e um campo fértil para invadir o cotidiano das pessoas que
estavam desiludidas com a política ou que há muito tempo estavam camuflando
seus preconceitos, suas crenças estapafúrdias e seus anseios antidemocráticos.
Estas agem como soldados que cumprem ordens e disseminam nas redes sociais e em
grupos de whatsapp falácias que visam atacar opositores, menosprezar a ciência,
desvalorizar a educação, ofender pensadores e estudiosos, ou seja, destruir
tudo aquilo que pode oferecer aos indivíduos um conhecimento mais aprofundado,
crítico e reflexivo.
De acordo com pesquisador Ernesto
Perini, o filósofo prussiano Friedrich Nietzche
considerava que a falsidade fazia parte regular do caráter humano e a mentira era
essencial para a sobrevivência. Para Nietzche, o mundo é falso, cruel,
contraditório, enganador, qualidades que foram intensificadas na
contemporaneidade com o advento das tecnologias e da capacidade de conexão
instantânea com a qual convivemos hoje. Criaram-se gabinetes do ódio que, juntos
às fábricas de Fake News, manipulam imagens, áudios e informações com o
propósito de defender certos interesses, que podem ser ideológicos, políticos
ou econômicos, e de enganar o maior número de pessoas possível, principalmente
aquelas que estão flutuando na ingenuidade ou mergulhando na lama da
ignorância. Se, para Nietzche, mentir é essencial para a sobrevivência nesse
mundo cruel, DESmentir se tornou crucial para nos mantermos lúcidos diante de
tantos embustes.
Investigar e desvendar informações falsas ocupa hoje um grande número de
jornalistas, ativistas, estudiosos e cientistas que precisam a todo instante
provar à sociedade que achismos descabidos, fatos inventados e negacionismos
científicos são infundados e significam um atraso na evolução da humanidade,
além de fazer com que um tempo precioso seja desperdiçado, enquanto poderiam
estar investindo os seus esforços em pesquisas e descobertas que auxiliariam a
todos. Como exemplo, temos as inúmeras Fake News sobre o coronavírus e a
pandemia que estão circulando no mundo, causando muitos transtornos aos
responsáveis pela saúde que precisam a cada instante esclarecer as mentiras, as
falsas afirmações, as meias verdades. Vale ressaltar ainda que a Verdade, quando
vem à tona, na maioria das vezes, não tem a mesma repercussão midiática e
velocidade de propagação, sendo incapaz de reverter o prejuízo causado pelas
Fake News que foram compartilhadas milhares de vezes.
A epistemologia de Platão nunca foi tão necessária como agora. Indagar,
averiguar, testar e provar a realidade dos fatos não cabe mais somente a
estudiosos e pesquisadores, cabe a todos nós que compomos a sociedade e que
buscamos o conhecimento e a verdade para alimentar as nossas mentes. Quem
dissemina as falácias de forma proposital conta com a ignorância, com a
acomodação, com a falta de leitura e de pesquisa, com a impulsividade daqueles
que não costumam conferir as informações antes de compartilhar, por isso é cada
vez mais importante combater essa prática e sempre difundir a verdade. Espero,
sinceramente, que esse obscurantismo de agora possa vir seguido de um novo
Iluminismo, que seja capaz de tirar as vendas da ignorância e resgatar o
conhecimento, o bom senso e a lógica.
Professora Suziane
Brasil Coelho
Palmas. Disse tudo.
ResponderExcluirÉ bom expressar o que a gente sente!
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