VESTIBULAR DA UECE 2ª FASE - 2023.2
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Prezado(a)
Candidato(a),
segundo a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com mais de 60 anos deverá ultrapassar a marca de 64 milhões de pessoas em 2050, isto significa que este estrato populacional deverá chegar próximo a 30% da população do país. Essa realidade, se por um lado indica desenvolvimento, por outro mostra os desafios pelos quais atravessa e atravessará o país em setores como a saúde, a educação e a previdência. Nesta prova de redação, você escreverá sobre a implantação de políticas públicas para o envelhecimento da população brasileira, tomando por base seus conhecimentos sobre a temática, bem como os dois textos motivadores. Escolha UMA das propostas a seguir e componha seu texto.
Proposta
1:
Imagine a seguinte situação: você participa do jornal de sua
escola e foi convidado para escrever um artigo de opinião, sobre “A
urgência de políticas públicas para o envelhecimento da população brasileira”.
O artigo de opinião deve apresentar fatos e argumentos sobre as políticas
públicas necessárias para o amparo aos idosos no país. Redija seu texto de
acordo com a norma culta da escrita de língua portuguesa.
Proposta
2:
A coordenação do Curso de Medicina, da Universidade Estadual do
Ceará, está organizando a coletânea “Vivências com o idoso no Ceará:
memórias com nossos avós”, como parte das comemorações dos seus 20 anos de
fundação, e você, estudante da educação básica, vai concorrer com outros
estudantes, para publicar seu texto. Para tal, você deve escrever uma história,
em que você narra um momento muito feliz com seus avós. Atente para o
uso da norma culta da escrita de língua portuguesa.
TEXTO
I
Um país mais velho: o Brasil está preparado?
Era para ser o primeiro de uma sequência de dez anos em que se
promoveria um conjunto de ações para melhorar a qualidade de vida das pessoas
idosas. Mas a ‘Década do envelhecimento saudável’, estabelecida pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) como o período de 2021 a 2030, começou com
uma pandemia que atingiu em cheio as populações mais velhas e matou milhões de
idosos em todo o mundo – no Brasil, pesquisa da Fiocruz mostrou que, em 2020,
quando ainda não havia vacina disponível no país, 75% dos óbitos por Covid-19
foram de pessoas acima de 60 anos. Mais do que uma “ironia do destino”, como
caracteriza Yeda Duarte, professora da Universidade de São Paulo (USP) e
coordenadora do estudo Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe) no Brasil, a
tragédia deve funcionar como um alerta. “Eu acho que a pandemia revelou as
mazelas que a gente sempre teve e não queria enxergar. Porque a questão do
envelhecimento como demanda de melhora de qualidade do acesso e criação de
serviços específicos já está posta há décadas, só que ninguém quer ouvir”,
resume Karla Giacomin, médica geriatra e presidente da Frente Nacional de
Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência, criada no contexto da
pandemia.
De fato, já faz algum tempo que o envelhecimento da população
brasileira se tornou um desafio para as políticas sociais e, particularmente,
de saúde: afinal, esse é um dos muitos desdobramentos da transição demográfica,
e consequente transição epidemiológica, que começou a ser percebida por aqui
nos anos 1970 e se intensificou no final do século 20. De um país onde nascia
muita gente, em que as pessoas morriam relativamente cedo, incluindo um grande
número de crianças que sequer completavam um ano, o Brasil vem progressivamente
experimentando a queda da taxa de natalidade, aumento da expectativa de vida e
redução significativa da mortalidade infantil. As consequências dessas mudanças
são várias e uma delas diz respeito ao desafio de garantir qualidade de vida
para os cerca de 31 milhões de idosos que o país tem hoje, o equivalente a mais
de 15% da população – para se ter uma ideia dessa transformação, em 2010 essa
proporção era menos da metade, 7,3%.
A notícia é boa, mas não custa lembrar que, apesar de ser um
indicador de desenvolvimento, esse processo acontece de forma muito desigual em
todo o país. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
mostram que, em 2019, a expectativa de vida no Brasil atingiu 76,6 anos, mas a
média da população dos estados mais pobres chega a ser 8,5 anos a menos do que
nas regiões mais ricas. Em Santa Catarina, que ocupa o topo da longevidade, a
expectativa de vida era de 79,9 anos, enquanto no Maranhão, que fica na outra
ponta do ranking, ela cai para 71,4 anos. De acordo com Giacomin, esse abismo
pode ser ainda maior no interior de uma mesma cidade: segundo ela, em Belo
Horizonte (MG) há diferença de 12 anos na expectativa de vida entre a população
que mora na regional periférica e na regional centro-sul. Em São Paulo, diz, entre
a periferia e a zona nobre, essa distância pode chegar a duas décadas. E tudo
isso sem contar elementos como cor e orientação sexual, que também afetam essas
estatísticas. “Parte da população masculina negra jovem é privada da chance de
envelhecer porque é dizimada pela violência urbana”, exemplifica.
Embora seja mais facilmente medida pela análise da expectativa de
vida, essa mesma desigualdade social está presente na velhice única, há
velhices diferentes. E a gente sabe hoje que o código de endereçamento postal
[CEP] onde uma pessoa vive determina muito mais o envelhecimento dela do que a
própria bagagem genética”, explica Giacomin, que completa: “É muito importante
que as pessoas reconheçam que envelhecer é o resultado do acesso ou da falta de
acesso a direitos fundamentais”.
Disponível em: https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/um[1]pais-mais-velho-o-brasil-esta-preparado.
Texto adaptado.
TEXTO
II
Becos da memória
Vó Rita era boa, gostava muito dela e de todos nós.
Eu me lembro de que ela vivia entre o esconder e o aparecer atrás
do portão. Era um portão velho de madeira, entre o barraco e o barranco, com
algumas tábuas já soltas, e que abria para um beco escuro. Era um ambiente
sempre escuro, até nos dias de maior sol. Para mim, para muitos de nós,
crianças e adultos, ela era um mistério, menos para Vó Rita. Vó Rita era a
única que a conhecia toda. Vó Rita dormia embolada com ela. Nunca consegui ver
plenamente o rosto dela. Ás vezes, adivinhava a metade de sua face. Ficava na
espreita, colocava a lata na fila da água ou punha a borracha na tina e
permanecia quieta, como quem não quisesse nada. Ela aparecia para olhar o
mundo. Ver as pessoas, escutar as vozes. E eu, de olhos abertos, pulava em cima
(só os meus olhos).
Eu não atinava com o porquê da necessidade, do querer dela em ver
o mundo ali à sua volta. Tudo era tão sem graça. Grandes mundos!... Uma
bitaquinha que vendia pão, cigarro, cachaça e pedaços de rapadura. A bitaquinha
era do filho dela. Ninguém gostava de comprar nada ali, o movimento era raro.
Vendia também sabão, água sanitária e anil. E, fora a cachaça, estes eram os
produtos que mais saíam.
Em frente da casa em que ela morava com Vó Rita, ficava uma
torneira pública. A “torneira de cima”, pois no outro extremo a favela havia a
“torneira de baixo”. Tinha, ainda, o “torneirão” e outras torneiras em pontos
diversos. A “torneira de cima”, em relação à “torneira de baixo”, era melhor.
Fornecia mais água e podíamos buscar ou lavar roupa quase o dia todo. Era
possível se fazer ali o serviço mais rápido.
Hoje, a recordação daquele mundo me traz lágrimas aos olhos. Como
éramos pobres! Miseráveis talvez! Como a vida acontecia simples e como tudo era
e é complicado!
Havia as doces figuras tenebrosas. E havia o doce amor de Vó Rita.
Quando eu soube, outro dia, já grande, já depois de tanto tempo, que Vó Rita
dormia embolada com ela, foi que me voltou este desejo dolorido de escrever.
Escrevo como uma homenagem póstuma à Vó Rita, que dormia embolada
com ela, a ela que nunca consegui ver plenamente, aos bêbados, aos malandros,
às crianças que habitam os becos de minha memória.
EVARISTO,
Conceição. Becos da memória, 2. ed., p. 27-30.